Wednesday, March 22, 2006

Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
Museus demais
Depois do roubo dos mapas do Itamaraty, das fotografias da Biblioteca Nacional, dos quadros da Fundação Castro Maya e das peças do Museu da Cidade, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, poderia chamar as companhias de seguro para conversar.
Ter Cezanne na parede, Marc Ferrez na prateleira e mapas de João Teixeira Albernaz nos gavetões não é para quem quer, é para quem pode.
No Itamaraty algumas raridades, depois de restauradas, não voltaram ao cofre porque nele havia bichos. A chave da mapoteca já sumira três vezes.
Se as seguradoras entrarem na discussão do patrimônio histórico nacional, os responsáveis pelos acervos assumirão publicamente os riscos a que estão submetidas as peças que lhes são confiadas. Só a crueza das seguradoras poderá informar quanto custa (em dinheiro e em equipamento) a proteção de um acervo cultural. Desde os anos 90 se sabe que obras de arte roubadas são aceitas como colateral em grandes tratos do tráfico de drogas. (No caixa dois da arte mundial há uns 300 Picassos e 200 Chagalls.)
A burocracia faz milagres. No eixo
Rio-Niterói-Petrópolis há mais museus que em Roma (108 x 104). Falta segurança, mas abundam diretores que cuidam de acervos cada vez menores, sempre atribuindo as desgraças presentes às administrações passadas.
Se um museu não consegue receber cinco mil pessoas por mês (250 por dia) e não faz esforços para atrair visitantes, ele serve somente à burocracia que o habita. Se uma cidade não tem dinheiro para sustentar e proteger 108 museus, só há um jeito: fechar instituições redundantes e fundir acervos. No eixo Nova York-Washington os museus são menos de cem.