Saturday, December 10, 2005

Roubo na Biblioteca Nacional : Memória brasileira saqueada
Quarta Julho 20 10:28:31 BRST 2005
Maiá Menezes, O Globo, Rio, 20 de julho de 2005
http://oglobo.globo.com/jornal/rio/169122295.asp

O balanço da greve de três meses dos servidores do Ministério da Cultura foi negativo para a Fundação Biblioteca Nacional. Na noite de anteontem, ao manusear pela primeira vez obras do acervo depois da paralisação, técnicos da biblioteca constataram o sumiço de centenas de fotografias raras - até agora foram catalogadas 150. O inventário ainda não foi concluído, mas o presidente da fundação, Pedro Corrêa do Lago, já identificou que desapareceram obras de pelo menos quatro fotógrafos - o brasileiro Marc Ferrez, os alemães August Stahl e Guilherme Liebenau e o inglês Benjamin Mulock - que eternizaram imagens do Brasil do século XIX. - Estamos levantando ainda a lista (das obras furtadas), que será divulgada para evitar que pessoas de boa-fé comprem as fotos - disse Pedro Corrêa do Lago. A Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio da Polícia Federal vai marcar os depoimentos dos funcionários que notaram o desaparecimento, registrado ontem. Segundo os servidores da fundação, as fotografias tinham dimensões equivalentes à de três cartões-postais. Eles ressaltam que os ladrões substituíram as fotografias furtadas por outras também antigas, mas sem qualquer valor. Isso pode ser um indício de que as pessoas envolvidas no furto tinham livre acesso ao acervo. As fotografias foram vistas pela última vez há três meses quando foram apresentadas a uma delegação da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que esteve na fundação. Segundo o presidente, os seguranças privados contratados pela fundação trabalharam durante todo o período da greve. Técnicos da biblioteca informaram que os piquetes impediram que os 300 contratados e os 300 funcionários trabalhassem. Apenas a segurança tinha acesso ao prédio. De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos Federais, mesmo nos locais em que a adesão à greve foi de 100%, havia sempre a presença da direção. O fotógrafo Pedro Karp Vasquez, autor do livro "O Brasil na fotografia oitocentista", qualificou o furto como uma calamidade: - Essa fotos têm um valor simbólico muito grande. Foi uma coleção doada à nação por Dom Pedro II. Ele distribuiu entre o Museu Nacional, o Instituto Histórico Geográfico e a Biblioteca Nacional. Ele viu a importância disso para a costura da identidade nacional. Esse roubo é um verdadeiro atentado cultural. Nossa história foi saqueada. Cada foto pode valer R$ 5 mil O historiador Milton Teixeira também lembra que as obras fazem parte de 48.236 volumes encadernados e fotografias avulsas da coleção Teresa Cristina Maria (nome da imperatriz), deixada em testamento pelo imperador Dom Pedro II. Na avaliação de Milton Teixeira, as fotografias poderão ser vendidas separadamente, por um valor estimado de R$ 5 mil cada. - Este é o acervo mais fabuloso da América Latina, que poderá ser vendido facilmente se não houver um aviso. Há um mercado crescente de leilões e os colecionadores são conhecidos - disse o historiador. Outras fotos de August Stahl e Marc Ferrez foram poupadas do furto porque estão em Paris até dezembro. A coleção, de cerca de 50 fotos, está exposta no Musée d'Orsay. Alemão, August Stahl documentou a construção em Pernambuco, em 1858 e 1859, da segunda estrada de ferro do Brasil. Já Marc Ferrez, nascido no Rio de Janeiro e filho de um escultor francês, foi contratado em 1860 como fotógrafo oficial da Corte. As fotografias do inglês Benjamin Mulock retratam a construção da quinta estrada de ferro brasileira, na Bahia; já o alemão Guilherme Liebenau registrou imagens de Ouro Preto e outras cidades mineiras no século XIX. Colaborou Antônio Werneck Até meteoritos são furtados Obras de arte, santos barrocos e até meteoritos são roubados de museus e igrejas coloniais no Brasil, alimentando o mercado clandestino de objetos furtados que saem do país ou acabam à venda em antiquários e feiras de arte e artesanato por aqui mesmo. Reportagem publicada pelo GLOBO a 23 de maio do ano passado mostrou o Rio como recordista nacional de peças roubadas do patrimônio histórico. O estado aparecia ano passado à frente de Minas, Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina com uma relação de 520 bens culturais procurados, 57% de tudo que desapareceu no país nos últimos anos. O caso mais escandaloso é o da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Rio. Em seguidos furtos, que deram origem a dois inquéritos na Polícia Federal, em 1994 e 1995, ladrões de arte sacra roubaram cerca de 300 peças. Pela quantidade de objetos, foi o maior furto registrado no país. Em junho de 1997, a astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, do Museu Nacional, impediu que os americanos Ronald Edward Farrell e Frederick Marselli deixassem o país levando na bagagem três meteoritos valiosos. Ela denunciou que os dois dealers , como são chamados estes negociantes de arte e objetos raros, furtaram da coleção do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, três meteoritos. Foram detidos pela Polícia Federal. Alguns furtos praticados no Rio parecem saídos de filmes de aventuras policiais. Da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, na Saúde, bandidos levaram até as paredes com painéis de azulejos portugueses. Em 1982, foi roubado o oráculo da Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Paraty. Um museólogo encontrou a imagem num antiquário do Rio 13 anos depois. Com ajuda da polícia, Nossa Senhora foi devolvida a Paraty. Em julho de 2003, desapareceram da mapoteca do Palácio do Itamaraty, no Rio, 150 mapas e 500 fotografias. Muita revista para pouca História A História sempre foi marcada por guerras e a mais nova delas tem como palco as bancas de jornais. De um lado, a editora Vera Cruz, que lançou em 2003 a revista "Nossa História", em parceria com a Fundação Miguel de Cervantes de Apoio à Pesquisa e à Leitura da Biblioteca Nacional, que abandonou o projeto em maio deste ano. Do outro, a própria fundação, que lançou oficialmente na sexta-feira passada uma nova publicação, que atende pelo nome de "Revista de História". As semelhanças editorial e gráfica deram origem a um conflito. Na semana passada, advogados da Vera Cruz notificaram extrajudicialmente a Fundação Miguel de Cervantes e a Biblioteca Nacional por plágio. Segundo os advogados, o projeto gráfico e editorial da "Nossa História" teria inspirado além da conta a nova publicação. O entendimento da fundação é diferente. Segundo ela, apenas o título "Nossa História" é da Vera Cruz. O projeto da revista teria sido elaborado pelo Conselho de Historiadores da biblioteca e pelo designer gráfico Victor Burton e pertenceria à fundação. Assim, não haveria como se falar em plágio. No meio do fogo cruzado ficou o nome de Burton, grafado no expediente das duas revistas. Ele também foi notificado pelos advogados da Vera Cruz e ficou na posição curiosa de ser acusado de plagiar um projeto seu. A revista "Nossa História" tem tiragem de 80 mil exemplares e circulação nacional. Em setembro, completará dois anos. Já a "Revista de História", que está no segundo número, tem tiragem de 50 mil exemplares.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Cara,

O post é legal mas parágrafo único? Que pesadelo é ler isso!

6:02 AM  

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